Hansen é um desses caras que sempre admirei. Além de ser fodástico musicalmente falando (foi vocalista e mentor da maior banda já surgida em Santos City, a Harry) nunca teve papas na língua. Seu jeito franco e direto certamente lhe causou mais problemas do que vantagens…
É gente assim, como o Hansen, que faz esse mundo valer a pena.
Lamento apenas que ele seja um (quase) anônimo em Santos. Aliás sempre desprezamos nossos talentos, impressionante !!
Espero que essa entrevista ajude a fazer justiça com um dos nossos melhores cérebros !! Ainda há tempo…
FdeS – Um dos grandes problemas de Santos é a “terceiridadização” da cultura, simplesmente não há espaço para a “cultura alternativa”, só “baile da Fonte do Sapo”, “Baile nas Tendas da Praia” etc… Como combater isso ??
Hansen – Sinceramente, no ponto em que as coisas estão, eu não vejo saída. Os governos recentes fizeram um ótimo trabalho no sentido de imbecilizar as massas. O sertanojo se tornou a trilha oficial dos universotários, que não sabem nem escrever direito, ou interpretar o que lêem. Se vc posta qualquer figura de linguagem no Facebook, por exemplo, é muito provável que arrume uma briga com um ignorante desses.
Tentei fazer minha parte. Nos 90s, eu e o Marcelo Panda organizávamos festas com discotecagem e bandas, e sempre no máximo empatávamos os gastos. Hoje, eu não consigo pensar em nenhum tipo de iniciativa que possa reverter as coisas. As pessoas perderam o discernimento, são incapazes de ouvir algo e decidir por si próprias se gostam ou não. É por isso que é impossível arrumar para tocar sem ser com banda cover. A curiosidade por sons novos foi perdida.
FdeS – Santos era “Vessel’s Town” ?
Hansen – Sim, o conceito foi criado pelo Verta, mas acho que se encaixou como uma luva.
FdeS – O metal brasileiro começou com a Vulcano ?
Hansen – Não creio. Geralmente, atribuem a criação do metal brazileiro ao Stress, mas acho que o Vulcano foi um dos pioneiros no metal extremo, até mesmo a nível mundial, basta ver o conceito que a banda goza lá fora (infelizmente, é mais um caso de reputação não acompanhada de lucros).
FdeS – E a Mojo Books ? Explique o que era e se foi abortada ?
Hansen – A Mojo é uma editora virtual, cuja proposta são livros (na verdade, se assemelham mais a pequenos contos, pelo seu tamanho) baseados em títulos de discos. Eles podem ser baixados gratuitamente, e tem capa e páginas em formato de um cd, e vc pode guarda-los numa jewel case, caso imprima. Os downloads são grátis, bastando fazer um rapido cadastro. Eu escrevi o meu baseado no Billion Dollar Babies, do Alice Cooper, em 2007. Dei o nome de uma faixa a cada capítulo, e procurei costurar a história a meu modo. Para quem quiser baixar diretamente, pode ser por aqui:
http://www.4shared.com/rar/noVZUJ1Z/book_billion_dollar_babies.html
FdeS – O que existia em Santos nos anos 80 que permitiu o nascimento de uma banda como o Harry ?
Hansen – Acho que o fato de eu viver em Santos, era apenas uma circunstancia, que em nada colaborou para isso. Os discos importados que me serviam de referencia, eu tinha que ir buscar em SP (embora tenhamos tido boas lojas em Santos, como a Alface, a antiga Ferrs, Korneta, essas duas dos mesmos donos e onde eu comprei meus primeiros discos de punk rock, ainda em 78, e houve uma época em que o Tremendão tb trabalhava com importados, além da saudosa loja do Rui Pantera, o primeiro sebo de discos de Santos, e tb o meu primeiro emprego).
As casas noturnas tb eram em SP, Carbono 14 (para mim, a melhor casa noturna que já existiu nesse país), Anny 44, Espaço Retrô, Ácido Plástico. Então, se houve algum elemento de Santos que colaboro no nascimento do Harry, era apenas a minha presença e a do Johnsson, em torno dos quais a banda se agrupou.
FdeS – Quando foi a última vez que você esteve em Santos ? O que achou ?
Hansen – Estive aí agora, de setembro a dezembro. Ainda gosto daí, mas evito sair muito a noite. E meus points obrigatórios são a Blaster e a Sound of Fish, embora eu sempre procure visitar a Disqueria tb.
FdeS – Conhece alguma coisa da “cena rock” santista atual ?
Hansen – Infelizmente, não, principalmente pela falta de lugares para conhecer as bandas. Ouço falar bem do Erodelia, mas ainda não tive a chance de ouvir. Mas Santos sempre foi um celeiro de boas bandas, especialmente no metal e no hardcore. E até mesmo no electronico, não estamos sózinhos na baixada, o Serious Voices é uma excelente banda de synth pop de São Vicente, e tb o Paulo Gabrielleschi, ex City Limits, que sempre está com algum novo projeto.
FdeS – O que presta na música mundial atualmente ??
Hansen – Muita coisa. Eu não vivo de saudosismo. As regras do jogo mudaram, e mesmo que possam ter sido melhores, devemos aproveitar as coisas enquanto estão acontecendo. Eu não tenho dinheiro para comprar discos há anos, mas posso baixar álbuns que eu nem sonhava em conseguir ter, de tão raros que eram, baixo sempre com capas e arte gráfica, não é a mesma coisa, mas é o que posso ter agora e sou grato. Admito que desde que voltei a pegar a sério na guitarra, não tenho me atualizado tanto em musica electronica, até pq depois da safra fantástica de 2008, as coisas pareceram dar uma esfriada. Eu vinha ouvindo mais synth pop, pq o EBM se tornou meio cliché redundante nos ultimos anos, embora existam exceções como Agonoize e God Module. Mas ultimamente, tenho ouvido muito hard rock e guitarristas virtuosos tb.
FdeS – Você tem opinião sobre política ? Conhece o atual prefeito municipal de Santos ?
Hansen – O único objetivo dos políticos é enriquecer, apenas isso. Não conheço o novo prefeito, lembro-me apenas que o jornal Cidade de Santos tratava o pai dele como “o alcaide”.
FdeS – Se hipoteticamente você fosse convidado para exercer o cargo de Secretário Municipal de Cultura de Santos e aceitasse, claro, quais seriam as suas ações ?
Hansen – Construir um campo de exterminio e mandar para lá todos os funkeiros, pagodeiros e axezeiros, ah ah ah ah ah ah (mas que os assaltos diminuiriam, é uma realidade, rsrsrsrs)
Há alguns anos, eu poderia responder essa pergunta, mas hoje no pé em que as coisas estão, estou perdido mesmo.
FdeS – Tenho um sonho, o de transformar Santos em uma capital da cultura alternativa… Sinceramente, você acha isso possível ou me aconselha a desistir ?
Hansen – Isso já foi possível. Santos já foi, por exemplo, um polo hardcore mais relevante do que SP. Hoje, sou tentado a responder que é impossível, mas não o aconselharia a desistir, já que eu mesmo não desisto. Acho que são sonhadores como nós que carregam as bandeiras adiante.
FdeS – Você falou que a banda se reuniu. O que vocês estão preparando ?? Quais são os planos ??
Hansen – Para deixar as coisas claras. Desde 2009, o agora chamado H.A.R.R.Y. and The Addict somos eu e o Ricardo Santos (Downward Path, In Auroram), e ainda investimos no synth pop, embora ao vivo tenha guitarras pesadas em cima. As novas gravações podem ser ouvidas e baixadas aqui:
A minha movimentação em Santos foi com o Cesar Di Giacomo (o baterista original do Harry), Lee Luthier e o Marcelo Marreco. Resolvemos regravar o Fairy Tales apenas com guitarra, baixo e bateria (embora provavelmente o Johnsson vá colocar um piano, cravo ou órgão em algumas faixas). Regravamos na verdade 7 das 10 faixas, mas gravamos mais 9 musicas novas. As faixas ainda serão mixadas pelo Nando Bassetto, que junto comigo será o responsável pela produção. Ainda não sei como elas serão lançadas. Eu gostaria de lançar em vinil, mas aí será necessário algum patrocínio. Assim que tivermos algumas faixas mixadas, vou sair atrás de alguns selos. Mas o importante mesmo era ter o registro. Já não somos tão novos, e muitas faixas antigas bem legais ainda não haviam sido gravadas, pelo menos temos esse legado. Ainda não resolvemos tb com que nome lançaremos isso.
FdeS – Como podemos nos atualizar sobre o Harry, uma vez que o site oficial – http://www.harrynet.com.br/ – não é atualizado há anos ??
Hansen – Sobre o H.A.R.R.Y. and The Addict, além do site que postei acima, temos esses:
Além do meu Facebook, onde sempre estou postando qualquer atualização:
O harrynet era da Fiber, que lançou o nosso box Taxidermy, mas já encerrou as atividades, daí não ser mais atualizado. Gostaria de ver qualquer hora se é possivel alguém assumi-lo.
FdeS – Você acha que você se tornará o Gilberto Mendes daqui há alguns anos ? Explico, talentoso mas rejeitado pela cidade que nasceu ?? Aliás, o que você acha do Gilberto Mendes e do Festival Música Nova ?
Hansen – Acho que de certa forma, isso já acontece, embora eu possa estar sendo injusto com os poucos que apreciam o nosso trabalho. Acho que o culto à nossa musica pode não ter um kilometro de distancia, mas com certeza, tem um kilometro de profundidade.
FdeS – Quem você acha que devo (tentar) entrevistar agora ?
Hansen – O Nando Bassetto seria uma boa idéia. Além da história que ele carrega (Mr Green, Cajamanga), ele está no line up atual do Garage Fuzz, que lançou um EP recentemente, e está em constante atividade, e é o dono do Play Rec Estudio, onde gravamos o Fairy Tales revisitado.
(Nota do FdeS: Estou tentando entrevistar o Nando, mas parece que ele não me levou muito a sério…rs)
…
Toda a obra do Hansen está disponibizada para download gratuitamente. Ele enviou todos os links para quem quer conhecer seu trabalho. Não rateia não, É música da melhor qualidade !!!!
Links para o box Taxidermy, que compreende a nossa discografia de 85 a 2005
O Fairy Tales original, com 7 faixas extras
O Vessel´s Town, com 7 faixas extras
O EP Caos, com 13 faixas extras
As faixas novas, gravadas pelo Hansen e pelo Ricardo, entre 2009 e 2012, incluem inéditas, regravações e um cover do The Who
E o tributo The Sky Will Be Grey, de 2009, com bandas tocando o nosso material, é igual a qualquer outro tributo.