Falando de Santos entrevista… Nando Bassetto

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A entrevista com o Nando Bassetto foi sugerida pelo Hansen na entrevista que ele concedeu a este blog – https://falandodesantos.wordpress.com/2013/01/14/falando-de-santos-entrevista-hansen-harry/ . Mas nem seria necessária a indicação. Nando é um dos caras que mais tem história no rock santista e teria presença garantida em nosso blog. Atualmente é guitarrista da Garage Fuzz, banda que dispensa maiores apresentações.

Na verdade, as atividades além da Garage Fuzz é o que interessa nesta entrevista. E ele não poupou palavras…

Falando de Santos – “Abril de 1991. Ensaiávamos em um quarto pequeno e quente na cidade de Santos, escutando Hüsker Du, Celibate Rifles e The Saints. Era o início de uma banda que, com duas semanas e meia de existência, já faria sua primeira apresentação ao vivo”. Encontrei esse texto no Facebook do Garage Fuzz . Você imagina isso acontecer hoje em dia em Santos ?? Em três dias arrumar palco pra tocar ???
Nando Basseto – Primeiro preciso dizer que estou no Garage Fuzz desde 2009 só… farão 4 anos agora no próximo mês.
Mas sempre tive banda de som autoral, desde 1989. A primeira foi o Mr. Green, que tocava bastante por aqui…então posso também dizer que é muito difícil sim uma banda que está começando, conseguir um espaço pra tocar. Hoje a “politicagem” atingiu donos de casas e promoters, de uma tal maneira, que na maioria dos eventos a banda tem que vender uma quantidade enorme de ingressos para ser a primeira a tocar, junto com mais 10 bandas.
Complicadíssimo.

 

FdeS – Um dos grandes problemas de Santos é a “terceiridadização” da cultura, simplesmente não há espaço para a “cultura alternativa”, só “baile da Fonte do Sapo”, “Baile nas Tendas da Praia” etc…  Como combater isso ??

Nando Basseto – Acho que o que deve realmente ser combatido é essa mentalidade de quem hoje produz os poucos eventos de som “alternativo” na cidade.
À partir do momento que houver a possibilidade de se reestruturar uma cena em Santos, onde as bandas possam se juntar de forma justa e fazer dos eventos grandes, realmente uma vitrine para os eventos menores e que esses de fato aconteçam, naturalmente rolará um interesse de que essa manifestação se incorpore novamente à cultura da cidade…assim como foi na década de 80 e começo da de 90.
Mas enquanto as bandas daqui ficarem apenas esperando o próximo show pra que elas vendam seus intermináveis convites, pagando literalmente pra tocar, vai continuar sendo impossível mudar esse cenário.
O que faz o cachorro correr em volta do rabo, eu diria, porque nenhum espaço será aberto enquanto não mostrarem que pode realmente ser aberto.
Existem muitas casas no centro que podem e devem ser exploradas e, no entanto, só a “Tribal” é utilizada para esses tipos de eventos.

 

FdeS – O Garage Fuzz tem alguma canção que fale de Santos ?

Nando Basseto – Literalmente, que eu saiba, não.

 

FdeS – Falando sério !! Há HC em Santos ou só “pastiche” ?

Nando Basseto – Há sim…hoje começam a aparecer algumas bandas que fazem a esperança de uma cena nesse sentido reaparecer.
De bate pronto posso citar o Black Jaw e o Flann, que são duas bandas muito boas e que fazem um som de alta responsa e sem ‘pastiche’ algum.
E existem outras…

 

FdeS – Você, que tem atividade ligada a um estúdio, responda: Por que gravar em Santos é tão caro ?

Nando Basseto – Eu discordo…gravar em Santos é inúmeras vezes mais barato do que gravar em São Paulo, por exemplo. Se levarmos em conta a qualidade e a compararmos, mais ainda.
É que realmente, para uma banda que está começando, os preços podem assustar, mas hoje chegamos aqui na cidade, a um nível de qualidade de equipamentos e know-how que não devem em nada à maioria dos estúdios de fora da baixada…e isso reflete também nos preços.

 

FdeS – O que existia em Santos nos anos 90 que permitiu o nascimento de uma banda como o Garage Fuzz ?

Nando Basseto – Existia uma molecada realmente com sangue nos olhos, que não queria apenas aparecer, ou fazer o som do momento. Era uma galera que se expressava mesmo no som, que fazia aquilo que gostava e acreditava…por isso uma gama enorme de estilos diferentes na época.
E outra, todo mundo ia nos shows de todo mundo.
Eu ia nos shows do Garage Fuzz e Chemical Disaster e vice-versa. Nós (Mr Green), em 1990, dividíamos uma sala separada por um tapume de madeira, que nós mesmo colocamos, com o OVEC, que depois se transformou em Garage Fuzz.
Então apesar dos estilos completamente diferentes, existia acima de tudo, a vontade real de fazer um som e de fazer algo acontecer.

FdeS – Você mora em Santos ? O que acha da cidade ?

Nando Basseto – Cara…gosto muito daqui. Nasci em Santos e acho difícil me imaginar morando em outro lugar.
Mas é complicado ver a cidade chafurdada no interesse dos velhos ‘coronéis’…com mega-construções, especulação imobiliária desenfreada e um problema mundial…o descontrole de natalidade.
Muita gente…e daí mais dor de cabeça, mais trânsito, mais violência, menos espaço e menos possibilidades de trabalho pra todo mundo.

 

FdeS – Das novas bandas de Santos, alguma que você possa sugerir ?

Nando Basseto – Fora as que citei do cenário HC, posso falar do ZEBRA ZEBRA que faz um som honestíssimo e realmente diferente…o Dany Romano, que é um cara que faz excelentes músicas e é muito rock’n’roll…o ERODELIA  que é uma banda de hard-rock boa demais…o Caio Bosco, que é um grande compositor…o HUGIN MUNIN que faz um som pesadaço e já desponta fora do país também…tem o MOSCOTRON que é um projeto de trio sensacional, meio instrumental, meio cantado…e tem outras, que nesse momento o tico e o teco não permitem lembrar…heheh

 

FdeS – O que presta na música mundial atualmente ??

Nando Basseto – Vem surgindo sempre coisas muito legais…bandas como Red Animal War, Faraquet, Minus the Bear, Pinback, Rival Sons (que é uma banda nova e que faz um lance meio Led Zeppelin), Blackberry Smoke, The Sheepdogs, Hot Water Music, Jane’s Addiction, Prong, Soundgarden…alguns novos, outros das antigas já, mas quase todos lançaram discos em 2012 e tudo sensacional, na minha opinião.

 

FdeS – Você tem opinião sobre política ? O que acha do atual prefeito municipal de Santos ?

Nando Basseto – Tenho…não acredito na maneira como se faz política…não deu até hoje e nem nunca dará certo. Os interesses nunca serão os de todos, enquanto todos não mostrarem de quem realmente é o poder.
Fisiologismo é o lixo entre os lixos produzidos pela política e forma esse câncer que está em metástase profunda no país.
Tenho ódio mortal de político corrupto, portanto, de quase todos…99%, eu diria.
Acho que o atual prefeito segue a cartilha do pai e continuará servindo o prato principal aos coronéis da baixada e do país, agora com essa história de pré sal…o que é triste.
Brasileiro não sabe e nem nunca saberá votar, ainda mais com esse culto às celebridades, principalmente as instantâneas, potencializados por BBB e todo lixo do gênero…hoje político é celebridade, não importa o que faz se tiver carisma.

 

FdeS – Se hipoteticamente você fosse convidado para exercer o cargo de Secretário Municipal de Cultura de Santos e aceitasse, claro, quais seriam as suas ações ?

Nando Basseto – Cara, no momento não posso dizer nada sem puxar a sardinha pro lado que vivo…pra ser secretário de cultura, deveria ter muito mais conhecimento em todas as áreas e me desdobrar pra pensar em poder fazer algo relevante.
Mas acho que o Circo Marinho era uma parada sensacional, que não devia ter acabado jamais…pelo contrário, deveria ter sido aperfeiçoada em termos de estrutura, de qualidade técnica, de equipamentos, de mão de obra etc…deveriam ter umas 2 ou 3 tendas daquelas hoje aqui, levando teatro, música, exposições e o que for a preços acessíveis (tipo no máximo 5 mango) pra todo mundo ver o que acontece na cidade.
A produção cultural nessas áreas aumentaria muito com um espaço assim.

 

FdeS – Tenho um sonho, o de transformar Santos em uma capital da cultura alternativa… Sinceramente, você acha isso possível ou me aconselha a desistir ?

Nando Basseto – Não aconselho a desistir não…mas que é uma tarefa complicada, é.
Acho realmente que as pessoas, a molecada, as bandas, a cada geração, todos vem se acostumando com a maneira que é tratada a cultura alternativa…se você sair na noite de Santos hoje, vai ver que o que rola é um desapego total e irrestrito com tudo que é ligado à cultura, quanto mais a ‘alternativa’. Hoje, aqui, as pessoas não saem mais de casa muito pensando em ver um show, curtir um som…saem pra ficar locão e pegar mulher, ou homem. Por isso as baladas, quando tem banda, elas são meros coadjuvantes que tocam covers e dão apenas o ritmo pra que a galera se divirta…nada mais. Muitas vezes nem importa quem esteja tocando.
Não é à toa que o que faz mais sucesso hoje são os sertanejos universitários e suas temáticas que traduzem exatamente isso. Ou seja, tudo extremamente vazio, oco.
Esse costume é que é o maior veneno de todos e é ele que tem que ser combatido, caso alguém queira transformar aqui em um polo da cultura alternativa, na minha opinião.

FdeS – Além do Garage Fuzz, o que mais você anda “produzindo” ?? O Hansen, recentemente entrevistado por nós, disse que vocês estão trabalhando juntos !!

Nando Basseto – Estamos em processo de mixagem do novo trampo do HARRY, tudo gravado no formato banda (batera, baixo, guitarras, teclado e voz), e por isso, mais rock. Está ficando animal!
E pra mim isso é uma grande honra, porque foi vendo o Harry no circo marinho e as reportagens que saiam deles em revistas que líamos na época, que vimos que era possível ser de Santos e fazer algo legal e relevante pra qualquer lugar do país.
Fora isso fiz também os discos do Dani Romano, que está no 3º cd e fiz as produções de todos. O Erodelia tb fizemos aqui. O Ex Machina também está produzindo o próximo disco aqui, que sairá com um DVD e um CD de inéditas.
Na verdade são muitas bandas que passam por aqui no PLAY REC, que é o estúdio que tenho.
Santos continua formando uma quantidade grande de músicos bons, bons compositores também…e com o passar do tempo, a cada dia se exterminando mais aquela coisa de ‘vamos fazer um som pra estourar’, vem surgindo mais coisas interessantes.
Estou esperançoso…hehe

 

FdeS – Como podemos nos atualizar sobre o Garage Fuzz e sobre as suas outras atividades ??

Nando Basseto – O GF a galera pode acompanhar pelo facebook:
http://www.facebook.com/pages/GARAGE-FUZZ/160941987305326?fref=ts
Lá tem tudo o que está acontecendo com a banda…no Youtube também tem bastante coisa, inclusive as novas. Acabamos de lançar um EP de 4 músicas que saiu encartado na revista 100%SKATE no fim do ano, com patrocínio da Xbox live/Microsoft e que foi vendido nas bancas.
Estamos saindo pra fazer os shows dessa turnê e no Facebook todo mundo pode ficar por dentro das novidades.

Fora isso, tenho o estúdio aqui…o PLAY REC Studio, que fica no canal 4 (Av Siqueira campos, 481)…e é um estúdio de gravação e produção musical.
Rola também aulas de canto, guitarra e para Djs.
Pra conhecer o Play Rec pelo facebook:
http://www.facebook.com/pages/Play-Rec-Studios-SantosSP/448440751865121
ou no site:
http://playrecstudio.com.br/

 

FdeS – Me incomoda demais quando um santista, não necessariamente ligado a cultura/arte, consegue reconhecimento fora de Santos e é (quase) um desconhecido em nossa cidade. O Garage Fuzz, por exemplo, que chegou a ser contratado de uma grande gravadora internacional e aqui em Santos, se precisar divulgar um trabalho ou um show só se pagar anúncio no “jornal local”. Foda isso, né ??

Nando Basseto – Eu acho ruim principalmente, e tem a ver com o ‘desapego’ que já falei, esse desprestígio que rola por aqui. Ninguém quer se interessar pelo que rola aqui…e isso reflete em tudo, jornais, eventos, o que seja.
As bandas não se prestigiam entre si, como vão querer que um dia alguém prestigie? Que abram espaço e tal?
Essa molecada aí ta é precisando tomar um sacode, pra parar de reclamar e fazer direito.
Começar prestigiando o que rola por aí é o começo. São tantas bandas, que é tudo uma questão de matemática…não precisa ser muito inteligente.
Se todo mundo se prestigiasse, não teria evento de bandas com menos de 300 ou 400 pessoas. E eu pergunto:
Que casa ali no centro, por exemplo, não iria gostar de fazer um evento pra 300 pessoas regularmente?

 

FdeS – Quem você acha que devo (tentar) entrevistar agora ?

Nando Basseto – Eu sugiro duas pessoas na verdade…uma que pode falar muito sobre tudo isso, poruqe movimentou agressivamente a cena no começo dos anos 90, que é o Pepinho Macia (da antiga Metal Rock discos)
E mais recente, o Dani Romano, que é um compositor que faz um folk/rock muito bom e que já lançou 3 discos e um DVD, completamente independente.

Abraço a todos e valeu pelo convite!

 

 

 

One response to “Falando de Santos entrevista… Nando Bassetto

  1. Ótima entrevista. Posso atestar que o Play Rec está fazendo gravações de excelente qualidade, principalmente pq o Nando sabe pilotar muito bem o equipamento que tem. Já gravei em estúdios analógicos, com máquina de fita de 2 polegadas e não consegui os mesmos resultados pela falta de intimidade dos operadores com os equipamentos. E os preços estão razoáveis, sim, dá para ligar e conversar numa boa, afinal, perguntar não ofende…

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